Um amigo que julgo ser o mais esperto que eu conheço me levou pra conhecer um candidato a deputado federal. Disse que era uma ‘bocada’ boa.
Cheguei lá e uma secretária bonita anotou meus dados. Nome. Endereço. Telefone. Documentos (“Principalmente o Título de Eleitor”, disse ela). Depois fomos pra uma salinha até bonita, um escritoriozinho com santinho do candidato pra todo lado.
Uns minutos depois entrou o candidato. Se apresentou como “Doutor Fulano”. Conferiu se a moça bonita da recepção tinha recolhido meus ‘dados’. Daí começou a bocada.
Me ofereceu gasolina de graça durante toda a campanha, desde que eu colasse adesivos com a cara e o nome dele no meu carro e convencesse mais umas trinta pessoas a votar nele também. Depois ofereceu isenção de IPTU se eu tivesse um terreno vazio pra botar aqueles outdoor (que não são outdoor, porque o prefeito poibiu), e me garantiu que tem amigos que vão cuidar para que não chegue cobrança do imposto pra mim no próximo ano.
Ele chamou a gostosona da entrada e mandou ela anotar a placa do meu carro e o número da minha carteira de habilitação. Me entregou uma sacola com os adesivos e o endereço do posto de gasolina onde eu, desde então, encho o tanque sem pagar nenhum centavo.
Antes que eu saísse do escritório ele ainda me ofereceu cinqüenta conto por semana pra eu balangar bandeira com o nome dele na rua e mais cinqüenta conto pra eu fazer boca de urna. Eu topei tudo. Claro! Eu não sou besta!
Eu nem ia votar nele não. Eu queria era a ‘bocada’. Mas o doutor me convenceu quando falou aquela coisa que eu achei a frase mais linda saída da boca de um candidato.
Eu perguntei pra ele:
- Oh Doutor, eu até boto os adesivos no carro e coloco os outdoor que não são outdoor no meu lote, mas como eu vou convencer o pessoal a votar no senhor? Eu nem sei o que dizer pra eles.
Aí veio a frase, quase uma epifania:
- Não precisa, meu querido. Eles vão ver a minha foto com o número do lado. O número é bem fácil de decorar. Além do mais, o assum preto de minerva ouve muito bem, mas tem uns olhos que nada vê...